12/30/2003


No dia do Natal eu conheci a verdadeira fúria de uma pessoa com larica. Tipo que larica é aquela sensação única de não saber se vc está com fome ou não. Na dúvida você confere.

Eu e a minha irmã fomos passar o natal na casa do meu avô. Conversa vai, conversa vem, fomos levar uma tia minha em casa. Na volta eu falei brincando (porque eu nunca imaginei que ela fosse topar):

- E aí, Tetê, vamos quebrar um?

- Ahhhh... Vamos... (quem conhece minha irmã consegue imaginar exatamente como ela pronunciou a frase)

A partir daí foi assim: dirigi no escuro, em estrada de terra, doido, fumando um cigarro de palha desgraçado de ruim que me deu ânsia de vômito (acho que chamava "caubói").

Parte mais divertida da história:

Chegando na casa do meu Vô, fomos direto prá cozinha. Dei a sorte de achar um armário com uma torta de frango muito fina, e começei a comer e a falar uma bobagem qualquer com a minha irmã.

Daí veio o olhar fixo dela. Dava prá ver que, na consciência dela, nada mais existia a não ser aquele pedaço de torta. Temi pelo pior e tentei esconder o meu pedaço (e minha mão). Minha irmã percebe a minha estratégia com o que resta de racionalidade no seu cérebro enfumaçado e começa a procurar um pedaço prá ela. Abre uma panela de arroz que estava em cima da mesa e começa a comer com a mão (não tenho nada contra comer com a mão mas, se vocês conhecessem a minha irmã, veriam nisso uma atitude irreconhecivel). Não satisfeita, abre a geladeira e começa a comer uma farofa gelada (jogando por cima do arroz que estava na mão). Insaciável, vai para o fogão e começa a comer mais arroz de uma segunda panela. Tive a impressão que ela começou a beber café também. Durante esse intervalo, eu tentava explicar em vão onde estava a torta prá ela, sendo inteira e solenemente ignorado, talvez por medo de eu distraí-la e comer tudo escondido.

Aí eu tive a idéia: comecei a me mover na direção da torta displicentemente, tipo o pernalonga quando quer enganar alguém, sabe? Minha irmã me seguiu com os olhos famintos até o armário, de onde minha mão entrou vazia e saiu cheia. Tomei um safanão na passagem dela, e fui para o banheiro com a sensação de dever cumprido.




Me and my sister, Pedro Leopoldo, Christmas 2003


Obs.:

Happy new year!

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