10/14/2003


Chegando em casa domingo de noite, eu estava carregando meu violão. Na minha rua, tipo umas 10:30 da noite e um frio considerável, eu vejo uma coisa engraçada.

Sabe aqueles bancos feitos de bambu? Pois é, tinha um desses no meio da rua (no meio da rua é meio exagerado - tava há uns 2 metros do passeio) com um velhinho dormindo. Não parecia um mendigo: camisa prá dentro da calça, cinto e coisa e tal.

Eu fiquei meio preocupado, mas bastante receoso da situação. Paro a uns bons 4 metros de distância e pergunto:

Eu: - Ô meu senhor!

Eu (gritando mais): - Ô meu senhor!!

Ele (visivelmente bêbado): - Ai meu Deus! Que que é isso?

Eu: - Não é nada não... Só queria saber se você está passando bem

Ele: - Ááá... Bem a gante nunca tá, né? A gente tenta...

Eu: O senhor está precisando de alguma coisa?

O velho parece que se lembra que tem um cigarro de palha na mão; solta o cigarro como se estivesse queimando, depois percebe que ele estava apagado.

Ele: - Eu queria um fogo pro meu cigarro. Não é maconha não, viu menino...

Eu: - Tá aqui... (seguro o riso, tiro meu isqueiro e empresto prá ele; depois eu percebo que ele tem uns fósforos na outra mão).

Ele tenta acender o cigarro de palha, começa a queimar a mão e NÃO PERCEBE! O cigarro acende e ele continua com o fogo mais uns bons 30 segundos.

Ele: Eu até fumo maconha, mas hoje eu não quero... Você quer?

Eu: Hoje não, obrigado...

Ele: Eu te conheço, não? Você toca violão onde?

Eu: Em lugar nenhum.

Aí vem a merda (quem toca violão certamente já passou por isso): Ele pede prá tocar...

Grande digressão: Sabe aqueles hippies da Praça 7? Aqueles que, quando você passa com o violão, sempre gritam: "Toca Raul" ou "Manda o Led". Pois é. Eles sempre pedem prá tocar também. Falar que o violão tem as cordas invertidas só piora as coisas, porque o camarada fica curioso prá ver como é que funciona. Aí vem a sequência de tentativa e erro que todos fazem : Pega, olha as cordas, faz o acorde como se fosse um violão de destro umas 4 ou 5 vezes (até ver que soa mal), olha de novo, pergunta como é que faz, tenta mais umas vezes e desiste. Sempre. Só uma pessoa não fez isso até hoje (né, Ma)? Fim da grande digressão.

Bom, o tio pediu prá tocar. Eu falo que o violão é de canhoto. Ele insiste prá que eu toque, então. O tio pede um Led.

Eu (pedindo desculpas mentais para os deuses do Rock): - Só toco pagode. Tipo Só prá Contrariar, Exaltasamba...

Ele: E esse brinco na orelha? Pagodeiro usa?

Eu (espantado com a perspicácia de um tio bêbado): - Usa sim, meu senhor. Aliás, todo mundo da minha banda usa. É tipo uma marca registrada, sabe?

Aí eu percebi que tinha uns 10 minutos que eu tava lá com o tio. Resolvi ir embora.

Eu: Devolve meu isqueiro, por favor.

Ele me estende os fósforos.

Eu: Moço, eu te emprestei o isqueiro

Ele (fazendo uma cara visivelmente ofendia): Cê ta me chamando de ladrão?

Eu (sem paciência e pensando em nunca mais parar prá ajudar bêbados): Não. Só estou te pedimdo meu isqueiro.

Ele (rindo prá caralho): - Toma aí, menino... Não esquenta com a brincadeira do vô não...

Eu: - Bom, então tchau.

Ele: - Você não me enganou não, ô pagodeiro (com um cinismo carregado no pagodeiro)


Chego em casa e ligo prá Ma. Conto prá ela o caso e ela me pergunta se dá prá ver ele da janela. Óbvio que nem o tio nem o banco estavam lá... Weird...

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