10/28/2003
O fim-de-semana foi bom demais...
De sábado pra domingo, fui n´A Obra. Cerveja com steinhaeger. Depois veio a hora fatídica de dirigir meio bêbado dando carona pra moçada. Depois veio a amnésia alcoólica.
Digressão: a última vez que eu tinha tido amnésia alcoólica foi em Milho Verde, e só fiz merda. Tipo que minha sala de graduação tinha o hábito de escolher frases de formatura pras pessoas. Eu ganhei umas 3 só nessa noite (além de vomitar na igrejinha, rolar na lama e querer pagar um amigo meu prá bater num cara):
- Suas mirtáceas malditas! (Putz, essa não tem a menor lógica mas no contexto foi doida...)
- Amanhã, quando eu estiver sóbrio, rola? (Depois de um fora...)
- A terceira eu não lembro, mas alguém da minha sala vai fatalmente lembrar e escrever aqui...
Fim da digressão
Um amigo meu (né, Gabriel?) que teve amnésia química conta um caso muito engraçado: Ele entra em casa pensando: "tenho que entrar no meu quarto, me trancar e só sair de lá amanhã". A próxima lembrança do camarada é dele, sentado na cama, com um prato de tropeiro (!?) rangando. Minha amnésia foi tipo assim.
Eu levei um amigo meu em casa e minha próxima lembrança foi acordar na garagem do meu prédio, dentro do carro, 6:30 da manhã... Aí começaram a vir os flashes de memória...
Eu lembro da Ma me ligando prá saber se eu estava bem, e eu falei que já estava chegando em casa. Lembro dela ligando de novo e eu falei que o caminho que eu costumava passar estava impedido e que eu ia demorar mais pra chegar. Só. Não lembro do intervalo entre as ligações, nem de antes ou depois. De vez em quando rolam umas lembranças isoladas, tipo uma árvore bonita ou um cachorro na rua. Pela lógica (que pode ser falha, vinda de um bêbado) e pelas lembranças (idem) eu passei por dentro do bairro Bandeirantes, o que dá uns 20 minutos até minha casa.
Parte politicamente correta do blog: foi feio e eu não vou fazer de novo : )
De sábado pra domingo, fui n´A Obra. Cerveja com steinhaeger. Depois veio a hora fatídica de dirigir meio bêbado dando carona pra moçada. Depois veio a amnésia alcoólica.
Digressão: a última vez que eu tinha tido amnésia alcoólica foi em Milho Verde, e só fiz merda. Tipo que minha sala de graduação tinha o hábito de escolher frases de formatura pras pessoas. Eu ganhei umas 3 só nessa noite (além de vomitar na igrejinha, rolar na lama e querer pagar um amigo meu prá bater num cara):
- Suas mirtáceas malditas! (Putz, essa não tem a menor lógica mas no contexto foi doida...)
- Amanhã, quando eu estiver sóbrio, rola? (Depois de um fora...)
- A terceira eu não lembro, mas alguém da minha sala vai fatalmente lembrar e escrever aqui...
Fim da digressão
Um amigo meu (né, Gabriel?) que teve amnésia química conta um caso muito engraçado: Ele entra em casa pensando: "tenho que entrar no meu quarto, me trancar e só sair de lá amanhã". A próxima lembrança do camarada é dele, sentado na cama, com um prato de tropeiro (!?) rangando. Minha amnésia foi tipo assim.
Eu levei um amigo meu em casa e minha próxima lembrança foi acordar na garagem do meu prédio, dentro do carro, 6:30 da manhã... Aí começaram a vir os flashes de memória...
Eu lembro da Ma me ligando prá saber se eu estava bem, e eu falei que já estava chegando em casa. Lembro dela ligando de novo e eu falei que o caminho que eu costumava passar estava impedido e que eu ia demorar mais pra chegar. Só. Não lembro do intervalo entre as ligações, nem de antes ou depois. De vez em quando rolam umas lembranças isoladas, tipo uma árvore bonita ou um cachorro na rua. Pela lógica (que pode ser falha, vinda de um bêbado) e pelas lembranças (idem) eu passei por dentro do bairro Bandeirantes, o que dá uns 20 minutos até minha casa.
Parte politicamente correta do blog: foi feio e eu não vou fazer de novo : )
10/22/2003
10/21/2003
Domingo, chegando em casa de noite, eu desci do ônibus e pensei: "Há exatamente uma semana atras eu estava batendo papo com o velhinho do banco de bambu".
Lógico que eu pensei em como ia ser divertido encontrar com ele novamente. Eis que eu passo por uma carro com um malaco dentro (digressão mínima: prá mim, malaco não é necessariamente fodido financeiramente. Malaco são aquelas pessoas que você teria medo de encontrar sozinho na rua de madrugada, ou aquela cambada de chatos que fica te fritando e falando gírias incompreensíveis nos ônibus. Malaco is a way of life). No carro tava tocando aquela música do Sepultura com o Carlinhos Brown (acho que chama Ratamahatta).
Lógico que o tio do banco estava trocando idéia com o malaco, falando as gírias incompreensíveis. O mais doido foi ver o tio se despedindo do camarada com aqueles apertos de mao que envolvem uns 5 ou 6 movimentos diferentes, e terminam com um socando a mão do outro.
Dá próxima vez que eu encontrar com o tio, acho que vou perguntar se ele lembra de mim. Vou até perguntar prá Cris (que é uma amiga malaca minha) qual é o melhor jeito de sair ileso dessa históia.
Obs.: Cris, se você ler esse post, por favor, não mande o mineirão me dar porrada. Nem os caras da sua rua. Você precisa de mim prá ser seu consultor em assuntos de biomol...
10/17/2003
10/16/2003
Minha mãe está me aplicando música! De novo! E o mais doido é que eu gostei...
Inicialmente foi a bossa-nova. Eu tinha uns 14 anos, e minha mãe pôs prá tocar um bolachão do Vinícius. Nunca mais parei de ouvir.
Aí, semana passada, ela (que tava na Argentina) me liga falando que vai trazer um CD de um roqueiro egípcio. E me aplicou um tal de Amr Diab, pop-star sarraceno. O camarada já ganhou altos prêmios (o que, eu sei, não mede necessariamente a qualidade do sujeito).
Eu fiquei totalmente descrente quando eu vi o CD, ainda mais porque parece que o camarada é tipo o Paulo Ricardo do mundo árabe (prá piorar mais ainda, depois do RPM). Mas achei bem bacaninha. A letra das músicas (cantadas em árabe, traduzidas para o inglês no encarte) são totalmente barangas, mas eu não entendo nada mesmo e o vocal árabe é muito doido. Especialmente quando se está alterado quimicamente... Mas ainda prefiro o poetinha. Ele, eu ouço até sem nada.
10/14/2003
Chegando em casa domingo de noite, eu estava carregando meu violão. Na minha rua, tipo umas 10:30 da noite e um frio considerável, eu vejo uma coisa engraçada.
Sabe aqueles bancos feitos de bambu? Pois é, tinha um desses no meio da rua (no meio da rua é meio exagerado - tava há uns 2 metros do passeio) com um velhinho dormindo. Não parecia um mendigo: camisa prá dentro da calça, cinto e coisa e tal.
Eu fiquei meio preocupado, mas bastante receoso da situação. Paro a uns bons 4 metros de distância e pergunto:
Eu: - Ô meu senhor!
Eu (gritando mais): - Ô meu senhor!!
Ele (visivelmente bêbado): - Ai meu Deus! Que que é isso?
Eu: - Não é nada não... Só queria saber se você está passando bem
Ele: - Ááá... Bem a gante nunca tá, né? A gente tenta...
Eu: O senhor está precisando de alguma coisa?
O velho parece que se lembra que tem um cigarro de palha na mão; solta o cigarro como se estivesse queimando, depois percebe que ele estava apagado.
Ele: - Eu queria um fogo pro meu cigarro. Não é maconha não, viu menino...
Eu: - Tá aqui... (seguro o riso, tiro meu isqueiro e empresto prá ele; depois eu percebo que ele tem uns fósforos na outra mão).
Ele tenta acender o cigarro de palha, começa a queimar a mão e NÃO PERCEBE! O cigarro acende e ele continua com o fogo mais uns bons 30 segundos.
Ele: Eu até fumo maconha, mas hoje eu não quero... Você quer?
Eu: Hoje não, obrigado...
Ele: Eu te conheço, não? Você toca violão onde?
Eu: Em lugar nenhum.
Aí vem a merda (quem toca violão certamente já passou por isso): Ele pede prá tocar...
Grande digressão: Sabe aqueles hippies da Praça 7? Aqueles que, quando você passa com o violão, sempre gritam: "Toca Raul" ou "Manda o Led". Pois é. Eles sempre pedem prá tocar também. Falar que o violão tem as cordas invertidas só piora as coisas, porque o camarada fica curioso prá ver como é que funciona. Aí vem a sequência de tentativa e erro que todos fazem : Pega, olha as cordas, faz o acorde como se fosse um violão de destro umas 4 ou 5 vezes (até ver que soa mal), olha de novo, pergunta como é que faz, tenta mais umas vezes e desiste. Sempre. Só uma pessoa não fez isso até hoje (né, Ma)? Fim da grande digressão.
Bom, o tio pediu prá tocar. Eu falo que o violão é de canhoto. Ele insiste prá que eu toque, então. O tio pede um Led.
Eu (pedindo desculpas mentais para os deuses do Rock): - Só toco pagode. Tipo Só prá Contrariar, Exaltasamba...
Ele: E esse brinco na orelha? Pagodeiro usa?
Eu (espantado com a perspicácia de um tio bêbado): - Usa sim, meu senhor. Aliás, todo mundo da minha banda usa. É tipo uma marca registrada, sabe?
Aí eu percebi que tinha uns 10 minutos que eu tava lá com o tio. Resolvi ir embora.
Eu: Devolve meu isqueiro, por favor.
Ele me estende os fósforos.
Eu: Moço, eu te emprestei o isqueiro
Ele (fazendo uma cara visivelmente ofendia): Cê ta me chamando de ladrão?
Eu (sem paciência e pensando em nunca mais parar prá ajudar bêbados): Não. Só estou te pedimdo meu isqueiro.
Ele (rindo prá caralho): - Toma aí, menino... Não esquenta com a brincadeira do vô não...
Eu: - Bom, então tchau.
Ele: - Você não me enganou não, ô pagodeiro (com um cinismo carregado no pagodeiro)
Chego em casa e ligo prá Ma. Conto prá ela o caso e ela me pergunta se dá prá ver ele da janela. Óbvio que nem o tio nem o banco estavam lá... Weird...
10/09/2003
10/08/2003
Ontem eu tava no alto da Raja, com frio, puto porque meu último cigarro tinha quebrado (alguém já tentou fumar um cigarro quebrado? Frustrante...) e o ônibus não pasava. Eu gosto muito de esperar ônibus meio agachado, apoiando as costas em um poste.
Comecei a ler um livro do Veríssimo (o filho, não o pai) que a Ma me deu. O cara teve a manha de falar sobre o Borges. Quem quiser conhecer mais esse argentino fodaço pode ler um ensaio dele chamado de "A Biblioteca de Babel" ou, para começar, tem o clássico "O Aleph" (foi mal, só achei em inglês).
Bom, mas voltando a falar do Veríssimo, ele escreveu uma ficçãozinha ("inha" com certeza só pelo tamanho, nunca pela qualidade) do Borges, do Homero e do Joyce em um barco, em um mar de palavras. Fino do fino, ainda mais prá quem gosta da obra dos três. Quem quiser ler, clica aqui.
Aí veio o ônibus. Dei o sinal atrasado e ele parou lá na frente.
Eu levantei meio no susto e fui tentar correr até lá. Sabe o poste que eu estava encostado? Pois é, agora ele estava na minha frente, e veio muito rápido na direção do meu nariz. Sangrou muito, e o motorista não me esperou.
Uma bola de sangue descendo do meu nariz na minha camisa (que, obviamente, era branca) e eu tendo uma crise de riso no alto da Raja. Até acabou a luz.
Comecei a ler um livro do Veríssimo (o filho, não o pai) que a Ma me deu. O cara teve a manha de falar sobre o Borges. Quem quiser conhecer mais esse argentino fodaço pode ler um ensaio dele chamado de "A Biblioteca de Babel" ou, para começar, tem o clássico "O Aleph" (foi mal, só achei em inglês).
Bom, mas voltando a falar do Veríssimo, ele escreveu uma ficçãozinha ("inha" com certeza só pelo tamanho, nunca pela qualidade) do Borges, do Homero e do Joyce em um barco, em um mar de palavras. Fino do fino, ainda mais prá quem gosta da obra dos três. Quem quiser ler, clica aqui.
Aí veio o ônibus. Dei o sinal atrasado e ele parou lá na frente.
Eu levantei meio no susto e fui tentar correr até lá. Sabe o poste que eu estava encostado? Pois é, agora ele estava na minha frente, e veio muito rápido na direção do meu nariz. Sangrou muito, e o motorista não me esperou.
Uma bola de sangue descendo do meu nariz na minha camisa (que, obviamente, era branca) e eu tendo uma crise de riso no alto da Raja. Até acabou a luz.
10/07/2003
Bão, hoje eu começo o meu blog... Demorou mas saiu, viu Ma?
Sou biólogo formado na UFMG. Faço mestrado em bioquímica na federal. Tipo que eu não vou ficar falando muito de mim, porque imagino que quem vier no meu blog já me conheça.
Caso vc não saiba nada de mim e queira saber, clica aqui
Agora saca só que coisa bizarra aconteceu comigo um dia desses:
Caraca! Abelhas!
7 horas da noite. A aula acabou. Micro ônibus. Going home. A insustentável leveza do ser, do Milan Kundera. Situação perfeita pra ser um final de dia tedioso (exceto pelo ótimo livro. Aliás, leitura no ônibus é um velho vício meu).
De repente, eu levanto a cabeça e olho pra todas as pessoas. Uma crente com a perna meio cabeluda rezando baixinho (alguém já viu esses crentes rezadores de ônibus? É bizarro...), dois adolescentes se pegando, e uma tia com uma cara meio indefinida com um tanto de sacolas de compras. Mais um tanto de gente comum.
Esqueço das pessoas e volto pro livro. A Tereza tá abandonando o Tomas e levando a Karerin. Uma gritaria danada dentro do ônibus. Eu levanto a cabeça esperando tipo um assalto. Aí vem uma cena realmente nonsense: umas 200 abelhas voando dentro do micro ônibus!
Pequena digressão: eu acho que quase toda profissão tem seu dia do tipo: "não se preocupe com isso, eu sou médico", ou "eu arrumo o seu motor". Biólogo não. Serve só pra dar aula pro vizinho (A liga em T, C em G) e prá identificar a plantinha divertida do outro lado da rua. Outro dia eu conto os casos que me levam a pensar isso. Mas, nesse dia, eu tive minha chance. "Calma, eu sou um biólogo" é divertido.
Viro pro cara do meu lado e pergunto: -Caraca! Que merda é essa?
Ele: - Abelha, porra!
Eu (totalmente sem paciência com a burrice do camarada): - Eu sei que é abelha! Como é que elas apareceram aqui?
Ele: - Sei lá! Saíram da sacola daquela mulher alí!
Era a tia das compras. Aí o motorista, com toda a perspicácia de alguém em pânico, para o ônibus no meio da Antônio Carlos. Foi engraçado ver todo mundo apavorado naquela situação inusitada, e depois disso eu passei realmente acreditar em histeria coletiva. Uns 3 caras tiram a camisa e começam a tentar matar as abelhas. Muita gente gritando (inclusive os caras que tiraram a camisa, que começaram a ser picados).
Aula de zoologia. Lembrar é viver.
Eu grito bem alto: - Quem já foi picado?
A tia das sacolas responde, chorando um bocado: - Eu já fui picada umas 20 vezes!
Eu: - Então você vai ter que sair do ônibus!
Ela: - Por que?
Eu (pensando em como explicar pra uma leiga em pânico a atração de insetos por feromonios em 5 segundos): - As abelhas que picaram a senhora soltam um cheiro que chama as outras abelhas. Elas não vão parar de jeito nenhum...
Aí ela começou a gritar muito, poruq tinha abelhas entrando na roupa dela. Depois a tia saiu correndo, batendo a mão no cabelo desgrenhado e meio que tirando a blusa entre os carros da Antônio Carlos. Uns caras de outros ônibus até assoviaram. Umas 30 abelhas foram atrás.
Mais uma idéia brilhante do motorista em pânico: apagar as luzes prá ver se elas saíam. Alguém já viu como ficam os pernilongos ou as mariposas quando vc apaga a luz?
Uma porrada de abelhas trombando em você no escuro é incômodo. Tomar camisadas de passageiros desesperados, que tem teorias do tipo "quanto mais forte, melhor" incomodava bem mais. É quase um abelhão trombando em você.
Eu falo com o motorista: Acende a luz!
Ele: Por que?
Eu (pensando que merda de gente que pergunta tudo, porra): Elas ficam desorientadas sem a luz! Aí elas ficam trombando na gente!
Antes de continuar minha aula em condições adversas, o trocador foi lá e acendeu. As abelhinhas voltaram voar em círculos e o pessoal continuou com as camisadas. Mais alguma picadas (inclusive em mim) e tudo fica bem. Não reparei, mas aposto que a crente rezou como nunca. No final ela me agradeceu, falando "Jesus" e "deus salvador" pelo menos umas 20 vezes.
Depois de tudo resolvido, a galera começou: - Como você sabia disso tudo? Vc é médico? Veterinário? Um camarada me perguntou até se eu era aquele físico famoso. Aquele, sabe? Não? Nem eu. Realmente não sei por que o cara pensou que um físico teria a ver com abelhas. Nem o Lattes, que até já virou samba do Cartola... Ninguém perguntou se eu era biólogo. E eu não falei.
Claro que a tia esqueceu a sacola prá trás. Claro que a gente foi fuçar nela. Claro que não tinha absolutamente nada dentro que justificasse 200 abelhas dentro (tipo uma colméia ou um pote de karo).
Foi muito massa. Acho que se eu chamasse aquelas pessoas prá virarem meus súditos e me louvarem dali prá frente, até rolava. Pelo menos até aparecerem as cigarras no nosso reino. De cigarra eu tenho medo de verdade.
cigarinha simpática...
Quer saber mais sobre abelhas? Aí vai uma aula de zoologia básica.
Sou biólogo formado na UFMG. Faço mestrado em bioquímica na federal. Tipo que eu não vou ficar falando muito de mim, porque imagino que quem vier no meu blog já me conheça.
Caso vc não saiba nada de mim e queira saber, clica aqui
Agora saca só que coisa bizarra aconteceu comigo um dia desses:
7 horas da noite. A aula acabou. Micro ônibus. Going home. A insustentável leveza do ser, do Milan Kundera. Situação perfeita pra ser um final de dia tedioso (exceto pelo ótimo livro. Aliás, leitura no ônibus é um velho vício meu).
De repente, eu levanto a cabeça e olho pra todas as pessoas. Uma crente com a perna meio cabeluda rezando baixinho (alguém já viu esses crentes rezadores de ônibus? É bizarro...), dois adolescentes se pegando, e uma tia com uma cara meio indefinida com um tanto de sacolas de compras. Mais um tanto de gente comum.
Esqueço das pessoas e volto pro livro. A Tereza tá abandonando o Tomas e levando a Karerin. Uma gritaria danada dentro do ônibus. Eu levanto a cabeça esperando tipo um assalto. Aí vem uma cena realmente nonsense: umas 200 abelhas voando dentro do micro ônibus!
Pequena digressão: eu acho que quase toda profissão tem seu dia do tipo: "não se preocupe com isso, eu sou médico", ou "eu arrumo o seu motor". Biólogo não. Serve só pra dar aula pro vizinho (A liga em T, C em G) e prá identificar a plantinha divertida do outro lado da rua. Outro dia eu conto os casos que me levam a pensar isso. Mas, nesse dia, eu tive minha chance. "Calma, eu sou um biólogo" é divertido.
Viro pro cara do meu lado e pergunto: -Caraca! Que merda é essa?
Ele: - Abelha, porra!
Eu (totalmente sem paciência com a burrice do camarada): - Eu sei que é abelha! Como é que elas apareceram aqui?
Ele: - Sei lá! Saíram da sacola daquela mulher alí!
Era a tia das compras. Aí o motorista, com toda a perspicácia de alguém em pânico, para o ônibus no meio da Antônio Carlos. Foi engraçado ver todo mundo apavorado naquela situação inusitada, e depois disso eu passei realmente acreditar em histeria coletiva. Uns 3 caras tiram a camisa e começam a tentar matar as abelhas. Muita gente gritando (inclusive os caras que tiraram a camisa, que começaram a ser picados).
Aula de zoologia. Lembrar é viver.
Eu grito bem alto: - Quem já foi picado?
A tia das sacolas responde, chorando um bocado: - Eu já fui picada umas 20 vezes!
Eu: - Então você vai ter que sair do ônibus!
Ela: - Por que?
Eu (pensando em como explicar pra uma leiga em pânico a atração de insetos por feromonios em 5 segundos): - As abelhas que picaram a senhora soltam um cheiro que chama as outras abelhas. Elas não vão parar de jeito nenhum...
Aí ela começou a gritar muito, poruq tinha abelhas entrando na roupa dela. Depois a tia saiu correndo, batendo a mão no cabelo desgrenhado e meio que tirando a blusa entre os carros da Antônio Carlos. Uns caras de outros ônibus até assoviaram. Umas 30 abelhas foram atrás.
Mais uma idéia brilhante do motorista em pânico: apagar as luzes prá ver se elas saíam. Alguém já viu como ficam os pernilongos ou as mariposas quando vc apaga a luz?
Uma porrada de abelhas trombando em você no escuro é incômodo. Tomar camisadas de passageiros desesperados, que tem teorias do tipo "quanto mais forte, melhor" incomodava bem mais. É quase um abelhão trombando em você.
Eu falo com o motorista: Acende a luz!
Ele: Por que?
Eu (pensando que merda de gente que pergunta tudo, porra): Elas ficam desorientadas sem a luz! Aí elas ficam trombando na gente!
Antes de continuar minha aula em condições adversas, o trocador foi lá e acendeu. As abelhinhas voltaram voar em círculos e o pessoal continuou com as camisadas. Mais alguma picadas (inclusive em mim) e tudo fica bem. Não reparei, mas aposto que a crente rezou como nunca. No final ela me agradeceu, falando "Jesus" e "deus salvador" pelo menos umas 20 vezes.
Depois de tudo resolvido, a galera começou: - Como você sabia disso tudo? Vc é médico? Veterinário? Um camarada me perguntou até se eu era aquele físico famoso. Aquele, sabe? Não? Nem eu. Realmente não sei por que o cara pensou que um físico teria a ver com abelhas. Nem o Lattes, que até já virou samba do Cartola... Ninguém perguntou se eu era biólogo. E eu não falei.
Claro que a tia esqueceu a sacola prá trás. Claro que a gente foi fuçar nela. Claro que não tinha absolutamente nada dentro que justificasse 200 abelhas dentro (tipo uma colméia ou um pote de karo).
Foi muito massa. Acho que se eu chamasse aquelas pessoas prá virarem meus súditos e me louvarem dali prá frente, até rolava. Pelo menos até aparecerem as cigarras no nosso reino. De cigarra eu tenho medo de verdade.
Quer saber mais sobre abelhas? Aí vai uma aula de zoologia básica.
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